sábado, 23 de janeiro de 2010

Não se ama alguém que não ouve a mesma canção

Levei-a a um sítio que só não era um lar na adolelescência por não ter tecto nem paredes e fiz questão de lho referir para que entendesse que era especial para mim levá-la ali. Nada. Não se emocionou, não respirou fundo, não se preocupou sequer em ouvir os barulhos que sempre me haviam sido queridos, os mesmos que eu sabia se perpetuarem ao longo dos tempos não obstante a companhia, a época, eu próprio. Limitou-se a olhar à volta como quem censura a decoração de um bar, a esfregar as mãos escravas do frio e a forçar sorrisos que não lhe impediam um certo esgar de troça como quem diz, é só isto afinal o tal sítio que gabavas, foi para isto que me tiraste de casa, oh como és tolo mas parece-me que te devo agradar e dizer que é giro ou maravilhoso ou alguma palavra simpática que me surja, mas não, não era preciso ter-me tentado iludir acerca de um espaço do qual apenas eu sou servo e auscultador, um sítio onde projectava as minhas esperanças, onde matei sentimentos e ilusões, no qual convidei as energias a não se esquecerem de mim, que estava vivo e queria mais. Como explico que pode o meu corpo correr mundo mas a minha alma está sepultada ali? Como digo que foi à sombra daquelas árvores que descansava a fadiga de quando os meus fantasmas não paravam de me puxar pés, braços, cabelo, numa infinita tentativa de me convencerem de um mundo melhor do lado de lá, nem entenderia, caso explicasse, o quanto do alto daquele monte imenso se sente que se pode ter o mundo e mais uns trocos pelo menos até começar a chover e ter de fazer a conquista num outro dia de sol cúmplice.

Não digo. Não digo mesmo. Não interessa.

E a mim não interessa que lhe interesse ou não.