terça-feira, 22 de setembro de 2009

Andando a pé

Sms recebido à hora de almoço:

"Foi tão bom que devíamos repetir, beijo."

Se não insistisse nesta minha postura de cavaleiro cortês quase arriscava em responder que não foi de facto nada de especial e que um rabo espetado e uma boca húmida não viram a cabeça a todos os homens. Quer dizer, por uma escassa meia-hora sim, mas há muito mais a conquistar do que um corpo, pelo menos a ponto de o ter uma 2ª vez. Embora haja amigos meus que vão aproveitando a fonte até ela secar eu não sou egoísta nem gosto de empatar o tempo de ninguém, estou mais ao menos equiparado a um desportivo caríssimo a cujo test drive todos acedem. Guiá-lo é fácil, tê-lo é quase impossível. Já as mulheres que tenho conhecido acham que a pintura metalizada que mandaram pôr numa carroçaria sobrevalorizada em relação a um motor fraquinho e pouco capaz arrebata qualquer compra com a justificação de pouca quilometragem e de um alegado uso de uma velhinha que só ia ao mercado, embora haja sempre um desesperado que compra convencido que o calhambeque vai impressionar.
Mas não.

sábado, 19 de setembro de 2009

E?

Tem tatuada no pé uma qualquer frase de um livro que leu e que, segundo diz, é um lema. Trazia cuecas da côr das unhas e sublinhou quantas vezes pôde que liga muito a estes detalhes. Toquei-lhe na nuca e senti a cola enrijecida da aplicação de extensões, parece que só gosta de cabelos compridos e não consegue que os seus cresçam. E os olhos dispersamente maquilhados e concentradamente pesados, grandes pintados e carentes a esforçarem uma forma rasgada de sorriso mas a conseguirem menos que uma insatisfação devoluta e um afastar daquilo que eram os seus desejos iniciais, "bem-vinda ao clube" penso eu, mas sem deixar que isso me desvie a racionalidade em relação à boneca biónica prostrada á minha frente.
Despiu-se em menos de nada e admito que lhe arranquei as cuecas mais por desespero de deixar de ver aquela combinação vermelho-alaranjada de unhas-lingerie aos saltinhos tolos pelo quarto engrenados por uma pernitas curtas disfarçados nuns saltos que propriamente por tesão. Não fosse a persistência da boca mentolada para disfarçar o hálito de um maço de tabaco sempre presente na imagem fotográfica que guardei dela e teria dormido sem sequer considerar a companhia. Felizmente acordei só.
Ontem e hoje duas chamadas anónimas no meu telemóvel que não pude atender. Ou não quis. Prefiro manter a dúvida de quem seria e pensar que é o amor perdido a tentar comunicar comigo, a querer dizer-me "nunca te esqueci, vem para mim o mais rápido que possas que sinto tanto a tua falta" que atender e ser uma nulidade qualquer que me deixe desiludido por não ser ela.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A navegar

Passei uns dias de férias com uns amigos, um deles tem um veleiro e percebi que o cúmulo da qualidade de vida passa por abordar em pleno mar alto um barco de pescadores, comprar três chernes de cerca de 12 kgs cada um e ter em vasto oceano o almoço mais saboroso da minha vida na companhia de pessoas maravilhosas e sem sequer precisar de vir a terra. Questionei-me porque raio de motivo se dá tanto valor a uma casa num sítio fixo, estático, limitado quando a liberdade de andar por aí pode ser tão melhor.