quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Amigos mas não tanto

Quase 3 da manhã e dormir: nada.
O Nuno sacou uma cabeleireira do Miratejo (onde raio é Miratejo?) e respectiva amiga e convidou-me. Agradeci mas recusei que não fiz mal a ninguém. Ou melhor, até já fiz mas não a ponto de merecer uma pena destas.

domingo, 22 de novembro de 2009

Menos um

Almocei com um amigo de longa data. Daqueles que ainda se lembram de mim com um nascer-de-sol no olhar e há já muito que apenas vê uma longa fase de lua nova. Falámos durante horas, já os empregados saíam e apenas o gerente, conhecido do meu amigo, permaneceu connosco de volta de umas Amêndoas. É divorciado pela segunda vez e há seis meses juntou-se com uma húngara. Diz que nunca esteve tão feliz, que ela é maravilhosa em todos os campos e muito serena, que o que o fez arrumar as malas no passado foi precisamente as mulheres guerreiras que faziam questão de ver uma revolta em tudo, para as quais a casa se tornava um campo de batalha e ele um alvo a abater, racionando o sexo e bombardeando a cabeça dos miúdos. Tem precisamente o oposto, uma mulher que o trata como se ele fosse o único homem à face da terra, que não levanta ondas em lagos e que se sente feliz sem contrapartidas de férias, jóias ou vestidos. O mais engraçado, dizia ele, é que ela se comporta como se tivesse tudo mesmo trabalhando numa profissão braçal, andando de transportes e dispensando luxos que ele lhe podia oferecer sustentando sempre que o amor dele lhe é suficiente. Ria-se de sorriso convicto e aberto enquanto nos contava isto, sentíamos que de facto aquele homem estava realizado. Rematou com um "é outra cultura", lá não têm a cabeça tão virada para o ombrear de sexos, a mulher tem prazer em ser mulher sem querer (vou repetir a expressão que usou) ter colhões.
Foi ele que disse.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Soprano

A Clara relincha que nem uma égua com o casco partido. Pior é que nem sequer o ritmo do que geme se coordena com os meus movimentos quando a penetro. Alguém lhe disse que era excitante que gritasse muito. Temo que os meus vizinhos pensem a partir de hoje que me dediquei a rituais de exorcização de espíritos ou que faço parte de uma qualquer seita demoníaca em que uma mulher se altera como se lhe arrancassem as vísceras a sangue-frio. A "convidada" por estar desempregada e não ter horários profissionais ainda não se levantou, nestas alturas penalizo-me por ter deixado a aparelhagem em casa dos meus pais, uns quantos decibéis garantiriam um acordar garantido.


(Tenho de começar a perder o amor a uns quantos euros e passar a proporcionar-lhes os encantos das muitas residenciais e pensões espalhadas pela cidade.)

domingo, 15 de novembro de 2009

Nós fomos assim

(que nem crianças ansiosas pela novidade de um presente, rasgando papel, desprezando laços, ignorando instruções, verificando que, afinal, já possuíramos algo parecido, reparando que o ideal seria qualquer outra coisa, tão inútil, que o tempo urgia noutras infinitas surpresas também elas embrulhadas e possíveis de serem rasgadas, desprezadas, inutilizadas por entre barulhos de falsa gratidão e prazer exagerado, por entre expressões estudadas e palavras costumeiras, realizando beijos e abraços nos intervalos, ocupando o corpo e entretendo o ego, atendendo aos apelos do agora olvidando os próximos, apagando emoções áureas de presentes passados, de alegrias já vividas: desembrulhámo-nos, brincámos e deitámo-nos fora.)

...e nem podíamos ter sido mais.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O ruído do vazio

Pondero por vezes na possível existência de uma qualquer fórmula matemática aplicada a diversas fases da minha vida e em que tipo ladaínha define de forma mais ou menos ritmada os sulcos nos meus lençóis. Assim, há vezes em que me deito acompanhado e acordo só, outras há em que me deito acompanhado e acordo acompanhado e outras em que, como ultimamente, só me deito e só acordo. Nunca acontece, no entanto, a que eu mais desejaria: recolher-me só e acordar acompanhado. Isso significaria, numa equação fácil, um resultado prático de que a chave do meu apartamento estaria nas mãos de alguém a quem eu teria confiado a minha vida. Mas não. Não há a surpresa daquele cheiro habitual no corpo do costume nem os braços enlaçados em voltas que começam cá fora e acabam dentro de mim. De uma tranquilidade que ao mesmo tempo que me envolve me leva a acordar quanto antes para poder usufruir do tanto ali ao lado.
É impossível dormir assim. No silêncio de um coração a bater consigo próprio. É ensurdecedor o barulho que faz, sem compasso, apenas um tum-tum-tum ora ansioso ora desanimado. E ele pode tão mais. É por si só genial a ponto de compor partituras para uma orquestra inteira. Assim tivesse a inspiração comigo a cada noite e eu seria outro homem. Melhor. Aliás, finalmente homem.