domingo, 30 de maio de 2010

Carpaccio de coração

A maior parte dos meus amigos seguem enfastiados. Demoraram tempo a conseguir entrar no restaurante mais badalado, trabalharam para garantirem a conta paga no fim e esmeraram-se na apresentação a ponto de que, parece-me, com tanto afinco esgotaram a atenção em pormenores que em nada abonam a capacidade de apreciar o mais importante, a refeição. Esta, recuada perante tantos cuidados no que a rodeia, ficou caída entre talheres e sugestões externas. Tornou-se até de difícil digestão quando assumem que esperavam mais. O truque, dizem-me, passa por fingir. Fingir que se degusta o prato como se fosse a última refeição no cárcere de um condenado. Fingir que o pouco é imenso e sobra. Fingir como forma de não permitirem que a cruel realidade lhes exiba a precariedade do que estava para lá da porta que ansiaram.
Discordo deles, sou contra a técnica usada e mesmo sabendo dos olhares reprovadores, como se fosse louco, desafio-os a divorciarem-se.