sábado, 11 de setembro de 2010

É areia quente debaixo dos meus pés

Arranquei-lhe menos que o que tinha para lhe dar. Deu-me, arrancados, uns minutos de uma vida que sonhara passada a seu lado. Não foram minutos, apenas o pareceram. A mim que ainda hoje acordo a ouvir-lhe os saltos atrasados para o trabalho. A mim que ainda sinto uma boca feliz de vez em quando, desiludida mais que o que reparara, ausente sem que lhe tenha percebido a partida. Talvez nem nunca tenha chegado, talvez estivesse ainda longe e logo a tenha espantado com este meio jeito de abrir caminho à catanada quando a ela se chegava através de indicações, subtis mas precisas, a um destino ao qual se chega sem esforço e sem suor.

(Deus, porque me fizeste assim? Porque me puseste a ser fogo quando me bastava ter sido água?)

8 comentários:

Anónimo disse...

brilhante. não tenho mais palavras

*** disse...

Maravilhoso. Eu tinha mais palavras, mas arderam nesse fogo.;)

Malena disse...

A areia escaldante tem, por vezes, o condão de provocar fugas antecipadas...

jacklyn disse...

Obrigada Mais um Homem. Com este blog cheguei à conclusão que até tenho uma costela masoquista. Dá-me muito prazer vir aqui ler o que escreve e no entanto, enervo-me sempre. Chateio-me, mas, volto sempre. Isto não há-de andar muito longe da definição de masoquismo. Eu venho aqui ler, logo, gosto de uma coisa que me faz mal. Mais ou menos. Ou assim.

Anónimo disse...

Posso perguntar-lhe porque se enerva Jacklyn?

jacklyn disse...

Pode, pergunte. Aproveito e pergunto se posso pedir-lhe que arranje qualquer coisa para se identificar? "Anónimo" é tão estranho.

Anónimo disse...

Luísa :) e pergunto-lhe porque de alguma forma também partilho os seus sentimentos. O pior é que não percebo porquê. Se me faz lembrar alguém? Ou se gostava que alguém fosse como ele. É a minha dúvida.

jacklyn disse...

Olá Luisa :)
Vou tentar explicar porque é que me enervo sempre que leio os textos do Mais um homem. A sensação com que fico é que se trata de um homem muito intenso nas emoções, de um homem capaz de sentir e de se entregar de corpo e alma, contudo acho que está preso a uma ideia que o corrói. Das duas uma, ou deixou muito por dizer à mulher que ainda ama e não se liberta por isso mesmo, ou fez uma grande asneira e não se perdoa. Em todo o caso, esta capacidade de amar e de se entregar que acho que ele tem estão absolutamente desperdiçadas continuando ele preso à ideia, seja porque tem medo de finalizar o assunto ou porque não se perdoa. E uma pessoa assim intensa não deve ficar desperdiçada. Seja por que motivo for. E o desperdício enerva-me sempre.