terça-feira, 10 de novembro de 2009

O ruído do vazio

Pondero por vezes na possível existência de uma qualquer fórmula matemática aplicada a diversas fases da minha vida e em que tipo ladaínha define de forma mais ou menos ritmada os sulcos nos meus lençóis. Assim, há vezes em que me deito acompanhado e acordo só, outras há em que me deito acompanhado e acordo acompanhado e outras em que, como ultimamente, só me deito e só acordo. Nunca acontece, no entanto, a que eu mais desejaria: recolher-me só e acordar acompanhado. Isso significaria, numa equação fácil, um resultado prático de que a chave do meu apartamento estaria nas mãos de alguém a quem eu teria confiado a minha vida. Mas não. Não há a surpresa daquele cheiro habitual no corpo do costume nem os braços enlaçados em voltas que começam cá fora e acabam dentro de mim. De uma tranquilidade que ao mesmo tempo que me envolve me leva a acordar quanto antes para poder usufruir do tanto ali ao lado.
É impossível dormir assim. No silêncio de um coração a bater consigo próprio. É ensurdecedor o barulho que faz, sem compasso, apenas um tum-tum-tum ora ansioso ora desanimado. E ele pode tão mais. É por si só genial a ponto de compor partituras para uma orquestra inteira. Assim tivesse a inspiração comigo a cada noite e eu seria outro homem. Melhor. Aliás, finalmente homem.

6 comentários:

Cirrus disse...

Um belíssimo texto!

Malena disse...

Infelizmente,há muita solidão disfarçada de companhia! Mas também há, onde menos esperamos, aquele número mágico que completa a equação...
Do texto, lindo, como é hábito.

Claudia disse...

Um magnífico post.

Quantas pessoas sentem o mesmo que tu...

Anónimo disse...

Tem sorte, ainda ouve o barulho ensurdecedor... Outros já o não conseguem ouvir, já não faz qualquer ruído...
J.

Valquíria Vasconcelos disse...

Quem és tu, miúdo?.....lá lá lá

:)

Calendas disse...

Ó pá, seria mau sinal dormir só e acordar acompanhado. Serias sonâmbulo ou algo assim, lol.
Fora de brincadeiras, um bom post.