Estou de directa, esta noite não dormi. Não seria grave não dormir pudesse abdicar dos pensamentos que me invadem noite fora, se não ficasse horas a olhar para a chávena de leite que perdeu numa noite de tempestade emocional a sua parceira, a que dizia "amor", parti essa e fiquei com a que diz "eterno". Faz sentido, na minha lógica o eterno. Eterno destroçado, eterno apaixonado, eterno amargurado. Se tivesse ficado intacta a outra, já não havia correspondência possível, só se fosse em amor perdido, amor esgotado, amor-zero, antes assim. Estas chávenas comprou-as ela à falta de variedade no meu pequeno armário em que constam copos, canecas e frascos de compota que nunca uso, mas nada que pudesse acompanhar um pequeno-almoço ou um filme a dois. Fiquei feliz quando as juntei e li "amor eterno", ganhei a mania de as arrumar juntinhas como se só assim fizessem sentido, mesmo quando as deixava a escorrer depois de lavadas, permaneciam juntas. Como se ela fosse uma e eu a outra, sempre juntos. Mas veio o dia em que não me entendia, em que as palavras que me saiam da boca eram serpentes atiçadas, em que o coração mirrou e sumiu e acho que uma rocha tomou o seu lugar... nesse dia, a partir do qual soube que seria sempre a perder, entreguei à parede uma das testemunhas de quão doces eram os seus lábios. Quase ia a outra mas o choque perante os cacos foi maior. Ali fiquei imóvel a vê-los e a pensar que nunca mais as minhas chávenas fariam uma expressão juntas, apenas uma palavra solta e desconexa.
Cacos, ficou tudo bem explicado pelos cacos. A minha vida, sobretudo.
14 comentários:
E não seria mais útil quebrar também a outra? As memórias dos cacos são tão cortantes como eles.
O teu blog foi referido aqui:
http://netspice-vidasombria.blogspot.com/
Tal como desconfiava, gostei. Passa lá no meu blogue. Beijos
Caro colega de lista,
Gostei do blog. Só podia, para estar na lista da Isilda!
Nota: e também cá está o comentário anónimo deixado pela tipa!
Completamente de acordo. Por muito que o esforço seja e como alguém canta: "O que foi não volta a ser, mesmo que muito se queira".
Gosto do teu blog
Saudações!
acabei de entrar no blog, ainda não li mais nada. parte a outra também!
Cheguei aqui graças ao blog da Kitty Fane e adorei. Parabéns. :D
PARTIR TUDO, ARRUMAR OS CACOS E VOLTAR A DEIXAR ESPAÇO PARA NOVAS CANECAS. OK?
Palavras leva o vento...
Está nas acções o que queremos e precisamos...Palavras...Bouf...
Direi aqui que amo-te...acreditas? Nem vale a pena...
Vento...
Beijos
Oh Homem! Parta a louça toda! Eu já parti e recomendo :)
Eu gosto de partir loiça (mas por vezes falta-me a dita... coragem!).
=))
Tens email?
fantástico.
quase que podia ter sido eu a proferir tais palavras.
..o problema é que não se é capaz de partir, a réstia de recordação de quem neste estado nos deixa é maior que nós, mais forte do que a porcelana de que é feita a eternidade, nem que seja na nossa memória. a saudade que deixa. sensação de perdidos.
vou voltar *
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